Conto curto: Carta do Sr. Amon

          
              Ensaiou tantos textos. Escrevia cartas, argumentava, fazia uma exegese, depois amassava e jogava na lata do lixo. O Sr. Amon estava com o peito muito dolorido, o coração machucado e uma angústia emocional tomava conta da sua psiquê. Estava decidido a escrever um texto que pudesse esvaziar sua alma, que a deixasse leve e elevada. 
             Em certo momento da reflexão, rasgou a carta em construção. Não quis escrever mais nada. Concluíra que tudo isso só ocorre em sua mente. Não há amor, não há amizade, não há afeto, não há respeito. Não há nada, não há o que escrever. Os apaixonados são vistos como previsíveis, controláveis e incapazes de cumprir palavras. Amon colocou a mão na cabeça, tinha certeza de uma coisa: jamais queria passar por aquele profundo desgosto. Decidiu não escrever nada, não faz diferença mais, a liberdade estava na própria mente. Liberdade. Alivio. Fim das amarras e das algemas. Logo o tempo passa, as lembranças ficarão no passado. Levantar do chão, lavar o rosto, engolir as lágrimas e continuar caminhando... Vida que segue.
             Podia não entender muito de Filosofia ou Psicologia, mas sabia que merecia muito mais do que estava recebendo. Nunca mais fará poesia de amor. Nunca mais pensará no assunto.
                                                                                                                                       Almir

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Texto: a esquerda estudantil da UFPR tem sido nociva à Universidade.

Conto de terror: o assassinato em frente ao Bec Bar

Conto: O nascimento de um assassino