Texto: a esquerda estudantil da UFPR tem sido nociva à Universidade.


 A esquerda estudantil da UFPR tem sido nociva à Universidade.


        Antes  de iniciar o brainstorm sobre todos os pontos problemáticos, da esquerda universitária, elucido a principal motivação pela qual resolvi engendrar esse texto: ação política. Como assim? Há quatro anos atrás um ex-professor meu, filiado do PSOL em Recife, disse-me que toda insatisfação "deveria ser racionalizada e tornar-se uma ação política". A reclamação em si, fora dos devidos instrumentos, dissipa-se fugaz feito o orvalho matinal, nada contribui à melhoria do microcosmo social e suas relações. Agora quando existe além da insatisfação, fundamentação teórica, é possível compreender o que se faz deletério e providenciar medidas efetivas de fato. Estou em um nível de insatisfação. Resolvi agir como os homens do passado, que embebiam-se no elmo da coragem e expunham os seus textos ao coletivo, altivos enfrentavam de maneira adequada os infortúnios e suas consequências azíagas. Não é objeto da minha reflexão os conceitos hermenêuticos que abarcam os movimentos de esquerda, nem sobre dogmatismo ou análise etiológica, o  enfoque aqui será exclusivamente deontológico.
          Creio que fui bastante explícito, na introdução inicial, de que o texto não é uma mera critica à esquerda em sentido ipsis litteris e sim um convite à uma reflexão sadia e isenta de valoração ideológica.  No artigo quinto na nossa benfazeja Constituição Federal, no inciso IV, a liberdade de expressão é permitida desde que não exista o anonimato (o que não é o meu caso). O que tenho percebido, como experiência de alguém que foi atuante na esquerda, é que a mesma está sendo cooptada por asseclas que não sentem em seus corações o devido amor pela humanidade e a boa fé necessária para estimular os ares auspiciosos do progresso. Mais especificamente falando, qual será o recorte? Pois bem, a vivência de um ano como graduando em Direito pela Universidade Federal do Paraná. 
         Cada curso na instituição, tem suas tradições e hábitos particulares, no Direito não seria diferente, todavia as questões relacionadas à Política são visceralmente mais acentuadas neste curso. A organização é muito bem coordenada por dois partidos, de vez em quando surge alguma via alternativa, mas o embate geralmente ocorre entre os dois maiores partidos: PDU e PAR. Abster-me-ei de citar o PDU pois o mesmo não é um partido de esquerda, portanto não enquadra-se no contexto desta exegese. Regressando agora sobre nossas excentricidades acadêmicas, assim que os alunos efetuam a matrícula já inicia-se um processo de cooptação de novos seguidores e afiliados (cooptação de calouros) visando às eleições para o CRD (Conselho de Representantes Discentes) e para gerirem o CAHS, o famoso Centro Acadêmico Hugo Simas.


1. De que maneira  ocorre a cooptação?

        Assim que os alunos efetuam suas matrículas, os veteranos do partido começam a adicionar nas redes sociais aluno por aluno. A piori todos são simpáticos, desde que você seja encarado como alguém útil para eles. O que seria alguém útil? O aluno que seja um possível eleitor, durante os períodos eleitorais, e que seja capaz de puxar mais votos à chapa. Inicialmente eles buscam os alunos oriundos de cotais sociais e raciais, propõem convites para festas e demonstram-se demasiadamente simpáticos. O "Bar da Matrícula" é uma festa, que ocorre anualmente, após a matrícula e serve como um momento de "integração", na verdade a integração é secundária pois o ethos principal é: aliança política. O calouro que fizer uma boa articulação no bar da matrícula, possivelmente será o escolhido para ser representante de turma e influenciar os demais.
      Todavia, a Semana da Calourada é o ápice da mendicância política dentro do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná. Literalmente você será abordado no corredor por algum aluno que irá sorrir e, logo em seguida, explanará sobre a "importância de filiar-se no PAR".  Dependendo da decisão tomada é que círculos de amizade abrir-se-ão ou fechar-se-ão. Assunto para o tópico dois.


2. Difamação
          

       O PAR possui uma diretriz interna de que seus afiliados não podem adicionar "certas pessoas" nas redes sociais. Isso eu ouvi de dezenas de pessoas. Inclusive o caso que mais chocou-me foi de uma pessoa que apoiava o PAR e fora proibida de adicionar o sujeito pelo qual ela era apaixonada, pois ele pertencia ao PDU. A partir desse momento achei que existia algo de anômico. Aí torna-se seita, uma organização com traços de criminosa, de forma alguma estou dizendo que o partido é criminoso mas a conduta apontada, em si, é passível de ser enxergada por esta óptica.  
         O maior erro que eles cometem é fazer exclusões identitárias. De que forma?

1) Há o preconceito etário, idosofobia, no qual pessoas nascidas entre 1945 e 1960 são taxadas de Boomers. Para quem não sabe, Baby Boom foi o crescimento de natalidade nos países após a Segunda Grande Guerra Mundial. O ódio aos mais velhos é ululante. Os velhos são estigmatizados como preconceituosos, intolerantes, no entanto é bom ressaltar que crianças também são cruéis e cometem bullyings terríveis nas escolas. Conheço idosos com uma visão extremamente progressista, empática, e já vi muitas crianças malignamente maldosas. Por conta disso poderia exprimir uma tese de que todas as crianças, em determinada faixa etária, são más? Obviamente que não.
 É inadmissível se falar em Direitos Humanos quando não existe respeito com o idoso. Conheço um aluno, defensor ferrenho do PAR, que vive dizendo que "idosos devem morrer", mostrando desrespeito pelos mais velhos e desrespeitando os seus próprios ancestrais genealógicos;

2) Impor regras comportamentais. O gay deve ser "efeminado", vulgar, usar linguagem pajubá, o homossexual que destoar desse espectro será visto como heteronormativo e execrado. O gay acaba por perder sua subjetividade ao ter que se inserir num conceito genérico e coletivo de homossexualidade. Nem todo homossexual gosta de expor sua vida nas redes sociais, gosta de falar sobre o assunto e isso não significa que o sujeito é mal resolvido consigo mesmo. O que ocorre é que algumas pessoas escolhem seguir o que se foi determinado em um pacto social, nos valores morais predominantes e agir de acordo com essas normas e costumes morais. O indivíduo é livre para escolher como quer viver, acho de uma tremenda pretensão afirmar que o gay que usa um "short" curto é mais feliz que outro que usa terno. Isso é tão subjetivo, impalpável, que fica impossível de não refutar. Não existe um "padrão gay", não existe um conceito monolítico do que é ser gay, aliás a palavra gay nem possuía relação com a homossexualidade até a década de cinquenta nos Estados Unidos. Na canção Tutti Frutti Hat - Carmen Miranda - a palavra gay é usada diversas vezes apenas como sinônimo de alegria, a partir da década de sessenta que o termo gay passou a ter esse viés de militância;

3) Para ser de esquerda tem que aderir a um estilo mais alternativo, o que faz com que muitas pessoas anulem-se para adquirirem encaixe em algum grupo social. Ter um estilo mais formal é visto com maus olhos, como aliados do "establishment". Quanto mais hippie, para eles é melhor. 

     A difamação ocorre porque ela é uma velha tática de guerra. No tempos antigos, o atrito com um inimigo dar-se-ia no embate com espada ou qualquer arma que fosse permitida, atualmente não é necessário matar alguém. Há algo muito mais eficaz: assassinar a reputação. Observem mais atentamente, caros leitores, a troco de quê alguém dirige-se até você para maldizer a outrem? Nada ocorre ao acaso, desinteressadamente, tudo é engendrado e possui viés político. Geralmente os alunos que são difamados, na surdina, o que mostra uma posição rasteira e pérfida, são justamente aqueles que possuem aptidões à vida política e altíssimas chances de coordenar uma coalizão vitoriosa nas urnas. A sugestão que dou quando algum nome for citado, no rol de personas non gratas,  é que conheçam a pessoa pela sua própria percepção  e não absorvam por osmose os preconceitos que seu veterano está tentando incutir em suas psiquês. 
       Aquele que é chamado de estranho, insano, antipático, preconceituoso, muitas vezes pode não ser absolutamente nada do que estas pessoas estão falando. E aí? Nessa difamação algo mais funéreo e pútrido ocorre: minam-se amizades. Por conta do egoísmo político de determinadas pessoas, outras estão sofrendo represálias análogas às difamações contra Sócrates no Tribunal de Atenas. Não são acusações justas, que visam algum tipo de nobre preocupação com o bem público, são insídias meticulosamente articuladas com fins diversos dos quais o partido promete defender.


3. Contradições 


       Outra contradição que percebi, nos últimos meses, é que alguns alunos de alto poder aquisitivo acabam por monopolizar locais de fala que deveriam ser dos cotistas e afrodescendentes. Há o caso de um aluno, cujo pai lida com desmatamento, lucra em cima da derrubada de árvores, e é um dos mais estimados pelo partido justamente por conta de seu prestígio financeiro.
        Os alunos aptos para relatarem sobre as dificuldades do ensino público, sobre a pobreza em si, deveriam ser os cotistas. Um aluno, por exemplo, que fez todos os seus estudos no Colégio Marista teve formação de elite, isso é um ponto fundamental na análise: elite. Sim. O aluno que estudou na escola pública possui outro tipo de vocabulário, de comportamento, de interesses, completamente distinto de quem recebeu uma educação elitizada e adquiriu outros hábitos. De forma alguma está sendo criticado o fato de uma pessoa ter uma excelente formação no Marista, sem dúvida é um colégio de alto nível, no entanto essas pessoas não estão sendo sinceras quando tomam a frente no púlpito.
       Falar em "nome dos menos favorecidos", sem conhecimento de causa, ou sem a sensibilização necessária não edifica. É mera demagogia. O Bullying do colégio público é muito mais intenso e violento que no ensino particular, as dificuldades de um cotista não são apenas no que tange às diferenças no ensino, são mais complexas. Os mais novos não possuem ainda a malícia para perceber que a análise social de alguém envolve o sotaque, o vocabulário, maneira de vestir-se, isso define um status perante os demais. De forma mais direta: quando as pessoas nos olham elas nos julgam como "ricos" ou "pobres". As dificuldades são muito mais abrangentes do que a simples compreensão das matérias no curso, execução de provas e trabalhos, envolve um espectro de dificuldades. Muitos cotistas possuem lares desestruturados, famílias em que há a presença da violência doméstica, pais alcoólatras ou adictos, escassez de dinheiro (para transporte, moradia, alimentação e vestuário). Realidade distinta de quem hauriu o que de existe de melhor na educação básica e no Ensino Médio. Sinceramente? Acho completamente incoerente isso e precisa ser refletido publicamente.

4. Conflito entre cursos

    Conheço um projeto de extensão incrível, que trata de Direitos Humanos, algo nobre e digno de aplausos. Teoricamente os alunos voluntários deveriam ter noção da importância da empatia, do respeito, do acolhimento, há trocas de farpas entre alunos de Psicologia e Direito por conta da questão de classe. Se todos lá estão unidos em prol de uma causa, por que esse tipo de conduta? 
O aluno de Direito que independente do seu posicionamento político, contribui com o projeto, não deveria ser bem tratado? A ajuda no projeto é adequada ao que se propõe, não rouba local de fala, no entanto ela é desdenhada por alguns. Realmente não entendo que sentimento é esse de igualdade, de empatia, de fraternidade, que não ando enxergando nos corredores. Eu mesmo sou testemunha de que aguentei calado, por conta do profissionalismo, dezenas de atitudes ríspidas de alunos de Psicologia. Repito: Psicologia. Acadêmicos que sabem como lidar com a mente humana, que leem Freud e Lacan, logo  conhecem exatamente o impacto emocional de suas ações e demais consequências no psiquismo alheio. Não são leigos no assunto.
    Isso entristece os professores, que lutam tanto para pesquisar, que batalham arduamente para ajudar a vida de tantas pessoas. Esse tipo de conduta é altamente deletéria.


5. Ausência de ética 

       É muito bonito ler publicações sobre saúde mental, prevenção de suicidio, autoestima, mas tem uma aluna do PAR que costuma ridicularizar fotos de outros colegas através de memes. Mas não é aquele meme saudável, em que brincamos com um querido amigo, é o meme que é produzido na surdina e visa ridicularizar a pessoa em grupos secretos.
         Reflitam, isso é atitude digna de quem defende subjetividades e identitatismo?


6. Considerações finais

       Diante do exposto, percebo que é necessário uma discussão pública sobre os rumos da política acadêmica. Não adianta se dizer comunista mas não ser amigo do aluno imigrante de quarenta anos, não adianta dizer apoiador da causa LGBT e excluir gays que não estejam nos padrões alternativos de comportamento, não adianta falar em prevenção ao suicídio e deprimir pessoas negando-lhes a chance de fazer novas amizades e assassinando-lhes a reputação pelas costas.
        Independente de viés político, temos que compreender que o Direito UFPR possui muitos grupos diversos. Não tem como ignorar o católico, o evangélico, o bolsonarista, o de extrema-direita, o de direita mais moderada, cada aluno ali possui uma necessidade específica. Qualquer partido que se preze precisa representar bem, ou vira mais um grupo egóico sem causa alguma, que fará com que nós alunos percamos tempo. Idosofobia é inadmissível e isso é preponderante no partido. Dessa forma, vejo como uma militância pode ser nociva à Universidade.
           Pretendo formar uma chapa e disputar as eleições para 2020. Estou com a pretensão de disputar uma vaga no CRD e tenho méritos para isso:

1) Fiz dois artigos em um ano (não falo com vanglória, mas para que os demais alunos percebam meu real envolvimento com o curso). Nunca na tradição do curso de Direito, UFPR, um calouro do primeiro ano havia conseguido engendrar um artigo para participar da Jornada de Iniciação Científica;

2) Representei a UFPR em uma Competição de DIH na Argentina, na Universidad de Buenos Aires, e tivemos uma participação elogiada pela UBA;

3) Criei a Tutoria para Refugiados e nenhum reprovou em 2019. Para 2020 estamos pensando em incluir calouros, no grupo, para que sanem suas duvidas antes das provas. Meu objetivo não é só eleitoral, é ajudar mesmo, essa é a ajuda mais importante que posso dar a um colega: que consiga sobreviver no curso. Os alunos imigrantes são meus amigos, existe um afeto verdadeiro no grupo e isso tem suma importância. Uma pessoa antes de disputar um cargo político ela tem que ser capaz de estimular afeto nas pessoas que o cercam;

4) Criei um grupo para estágios, no whatsapp, que fez sucesso e evoluiu para mais um grupo. Hoje totalizamos quase 500 alunos que nos respeitam e sabem que ali levamos a tarefa com afinco. Optei por proibir qualquer posicionamento político no grupo, pois uma ação precisa ter foco no seu fim e não em fins diversos. Todos os alunos do curso sabem que sou rigoroso nesse aspecto e que todas as manifestações foram para divulgar vagas de estágio, nunca usei o grupo para mandar qualquer mensagem que fizesse promoção pessoal;

5) Ganhei uma bolsa de estudos em Relações Internacionais, em outra universidade, por conta de um artigo que produzi ano passado. Irei montar um grupo de estudos lá, onde coordenarei discussões e pesquisas acadêmicas;

6) Acredito que o voto tem que ser consciente, acho lamentável a boca de urna que fazem nas eleições. Os alunos devem votar estando cientes de quem irão votar, respeitando essa pessoa, admirando-a e tendo plena ciência das propostas as quais ela defende.

     
    Nessa trajetória, de um ano, comecei a delinear meu currículo. Sugiro questionar seu veterano quando ele difamar alguém pelas costas, perguntem o que ele tem feito pela UFPR. Quais são os grandes méritos dele? Ele merece seu voto pro CRD? Qual é a profundidade da argumentação dele? Reflita e não se deixe ser usado(a).
    Percebam que nesse texto não há nada excludente, nada racista, nada maldoso, apenas uma análise da carência de ética em certos locais de fala e espaços públicos. Lembrem-se que difamar alguém pelas costas é desumanizar,  o que se torna totalmente incoerente com o objetivo de defesa dos direitos humanos e garantia da dignidade da pessoa humana. Alguns militantes acabam se tornando histriônicos por atenção, perdem o foco do ativismo, usam certas retóricas como forma de se perpetuarem no poder e impedem uma reflexão crítica. O que, neste caso, não deixa de ser uma ditadura às avessas, em nenhum momento há representatividade mas sim uma concepção rousseanina de vontade que não é atingida. Todos possuem espaço na Universidade, inclusive os mais velhos, quem não consegue ter essa visão não deveria falar em nome dos oprimidos.
       Para concluir, ledo engano quem pensa que uma pessoa madura entrou na universidade (depois de certa idade) por incapacidade ou problemas adversos, há pessoas que sentem-se mais aptas com o passar dos anos, cada um tem seu momento na vida. Sem contar que há muitos casos de pessoas que gostam de fazer várias graduações durante a vida. Qual o problema? Quem disse que faculdade é só para adolescente?

          

        

         

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